Tenho sérios problemas com o cinema brasileiro, mas hoje tive que me curvar diante dele.
Tropa de Elite 2 é o melhor filme que já assisti, e acho que demorará pra algum outro filme passar-lo. E ele não é só bom por causa do argumento e sim por todas as sutilezas dos atores e da fotografia, as ironias nas falas e na direção de arte, uma bem sucedida trilha sonora e por colocar o dedo na cara de TODOS, até mesmo de você e eu.
Começo elogiando dois nomes: José Padilha e Bráulio Mantovani, os roteiristas do filme. Quero deixar a genialidade de Padilha no roteiro e não falarei muito da direção.
A primeira ironia vêm logo no começo do filme ( não são os patrocinadores, mas poderia ser) quando uma frase entra para avisar que apesar das coincidências, aquela era uma obra de ficção. Inevitável segurar o riso. O roteiro é cheio desses pequenos detalhes, como a fala “ O problema foi aquela camiseta com os escritos “Direitos Humanos” em INGLÊS, manchado de sangue”, claro que nesse momento foi colocado algum tipo de critica, porque estava escrito em inglês e a ênfase na fala?
Cálculos absurdos como a comparação do crescimento da pop. Carcerária comparado com o crescimento populacional, mostram o absurdo de algumas bases teóricas para um interesse comum. Como também a sugestão de Cap. Nascimento batizar de “operação Iraque” uma operação da policia cuja justificativa ele acha duvidosa. Mas a maior ironia ficou no título.
O título do filme na verdade é “Tropa de Elite 2 – O Inimigo agora é outro”, quem é esse inimigo?
De pronto a resposta seria: A Polícia Corrupta. Mas não é bem isso, no começo vemos uma crítica aos direitos humanos, depois passamos para a mídia e a corrupção dos policias. Mas ele também coloca o dedo na cara do pessoal da Favela que faz Gatonet (“Afinal, favelado também merece uma teve de qualidade”), na mídia sensacionalista que nos defendem em nome do seu próprio interesse e sem dúvida nenhuma, ele aponta o dedo pra NÓS. Isso mesmo, pra você e pra mim, quando um dos políticos corruptos se levanta frente uma acusação e diz “Eu fui eleito! eu fui eleito!”. Pois é o grande vilão do filme, também tem um dedinho podre nosso.
Sutilezas do roteiro também podem ser visto na interpretação dos atores, uma cena que muito chamou a atenção se passa num churrasco na favela, onde todos estavam felizes, mas sutilmente você pode perceber que o comandante Fábio está cabisbaixo e algo lhe incomoda. Ou mesmo quando Russo não faz continência em um enterro.
Na Direção de Fotografia me chamou a atenção as cenas de ação. A cena do helicóptero passando pelo campinho é fantástica, mas mesmo sem efeitos especiais, as cenas em que Cap. Nascimento chega em casa e vai até a cozinha mostram como a fotografia podem passar o sentimento do personagem, sem fala e somente com o uso da iluminação.
Se temos ironias no roteiro, a Direção de Arte assina todas as ironias em forma de pequenos detalhes espalhados pelo filme. O cartaz de “Gás, somente aqui”, o logo e o nome do jornal e principalmente o logo do partido de Fraga.
Mas quero terminar esse texto parabenizando Pedro Bromfman com a mais bem sucedida trilha sonora do Cinema Nacional. A música tema é cantada desde a estréia do primeiro filme e sem dúvida nenhuma imediatamente vêm a sua cabeça quando se fala “Tropa de Elite”, antes dela qual música tema era tão marcante assim?? Mas não posso me limitar a somente essa música, as inserções durante o filme, me lembra muito o modo de trabalhar de Gustavo Santaolalla, mas além disso não acredito que o final do filme seria tão impactante como quando o filme acaba e a primeira frase de “O Calibre” do Paralamas do Sucesso.
Nessa hora confesso, o coração apertou e uma vontade imensa de chorar surgiu…
“Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei, da onde vem o tiro…”
Ps. Até a propaganda dos patrocinadores é bem colocada e não nos agride, a cerveja está no bar mesmo e não num momento sem sentido e a operadora de telefonia é quem faz o streaming que eles precisavam
Read Full Post »